sábado, 9 de abril de 2011

TEMPOS MODERNOS


Ficha Técnica:
  • Título original: Modern Times
  • Diretor: Charles Chaplin
  • Elenco: Charles Chaplin, Paulette Goddard, Henry Bergman, Chester Conklin, Gloria DeHaven
  • Gênero: Comédia
  • Duração: 83 min
  • Ano: 1936

RESUMO

Trata-se do último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome.
A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona. O filme focaliza a vida do na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias "subversivas".
Em sua segunda parte o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais abastadas, sem representar contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda que a mesma sociedade capitalista que explora o proletariado, alimenta todo conforto e diversão para burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas questões.
Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser considerado "socialista". Aliás, nesse aspecto Chaplin foi boicotado também em seu próprio país na época do "macartismo".
Juntamente com O Garoto e O Grande Ditador, Tempos Modernos está entre os filmes mais conhecidos do ator e diretor Charles Chaplin, sendo considerado um marco na história do cinema.

CONTEXTO HISTÓRICO

Em apenas três anos após a crise de 1929, a produção industrial norte-americana reduziu-se pela metade. A falência atingiu cerca de 130 mil estabelecimentos e 10 mil bancos. As mercadorias que não tinham compradores eram literalmente destruídas, ao mesmo tempo em que milhões de pessoas passavam fome. Em 1933 o país contava com 17 milhões de desempregados. Diante de tal realidade o governo presidido por H. Hoover, a quem os trabalhadores apelidaram de "presidente da fome", procurou auxiliar as grandes empresas capitalistas, representadas por industriais e banqueiros, nada fazendo contudo, para reduzir o grau de miséria das camadas populares. A luta de classes se radicalizou, crescendo a consciência política e organização do operariado, onde o Partido Comunista, apesar de pequeno, conseguiu mobilizar importantes setores da classe trabalhadora.
Nos primeiros anos da década de 30, a crise se refletia por todo mundo capitalista, contribuindo para o fortalecimento do nazifascismo europeu. Nos Estados Unidos em 1932 era eleito pelo Partido Democrático o presidente Franklin Delano Roosevelt, um hábil e flexível político que anunciou um "novo curso" na administração do país, o chamado New Deal. A prioridade do plano era recuperar a economia abalada pela crise combatendo seu principal problema social: o desemprego. Nesse sentido o Congresso norte-americano aprovou resoluções para recuperação da indústria nacional e da economia rural.
Através de uma maior intervenção sobre a economia, já que a crise era do modelo econômico liberal, o governo procurou estabelecer certo controle sobre a produção, com mecanismos como os "códigos de concorrência honrada", que estabeleciam quantidade a ser produzida, preço dos produtos e salários. A intenção era também evitar a manutenção de grandes excedentes agrícolas e industriais. Para combater o desemprego, foi reduzida a semana de trabalho e realizadas inúmeras obras públicas, que absorviam a mão-de-obra ociosa, recuperando paulatinamente os níveis de produção e consumo anteriores à crise. O movimento operário crescia consideravelmente e em seis anos, de 1934 a 1940, estiveram em greve mais de oito milhões de trabalhadores. Pressionado pela mobilização operária, o Congresso aprovou uma lei que reconhecia o direito de associação dos trabalhadores e de celebração de contratos coletivos de trabalho com os empresários.
Apesar do empresariado não ter concordado com o elevado grau de interferência do Estado em seus negócios, não se pode negar que essas medidas do New Deal de Roosevelt visavam salvar o próprio sistema capitalista, o que acabou possibilitando sua reeleição em duas ocasiões.

(http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181)



domingo, 3 de abril de 2011

JOHNNY VAI À GUERRA


Ficha Técnica:
  • Título original: Johnny Got His Gun
  • Diretor: Dalton Trumbo
  • Elenco: Timothy Bottoms, Kathy Fields, Jason Robards, Marsha Hunt, Diane Varsi, Donald Sutherland, Eduard Franz
  • Gênero: Drama, Guerra
  • Duração: 106 min
  • Ano: 1971

Único filme dirigido por Dalton Trumbo (1905-1976), roteirista importante ("Exodus", "Spartacus", "Papillon") e a vítima mais famosa do McCarthismo. Colocado na Lista Negra, foi obrigado a trabalhar sob pseudônimo e, como Robert Rich, ganhou um Oscar por "Arenas Sangrentas", em 1956, criando uma situação embaraçosa para a Academia. Foi também o primeiro a quebrar a lista, assinando "Spartacus" e "Exodus" no mesmo ano (1960).

Baseado em romance do próprio Trumbo (que existe em edição brasileira), inspirado num caso verdadeiro de uma vítima da Primeira Guerra, virou roteiro em 1964, para ser dirigido por Luis Buñuel. Foi este quem sugeriu a cena em que a enfermeira tenta matar o doente e a expansão das seqüências de sonho.

Mas basicamente é o mesmo roteiro que Trumbo rodou em 1970, com equipe mínima (os atores receberam o mínimo sindical), e que lhe deu quatro prêmios internacionais: Melhor Filme em Atlanta e Belgrado, Prêmio Especial do Júri e da Crítica em Cannes.

Ao ser lançado em 1971, em plena Guerra do Vietnã, o filme era chocante demais para ser facilmente aceito (só estreou no Brasil dez anos depois). Mas em momento nenhum, Trumbo se permitiu cair no panfletário, no efeito fácil. Não é um filme contra a Guerra do Vietnã ou a Primeira Guerra Mundial, é um libelo contra o absurdo de qualquer guerra, de qualquer situação que permita existir pessoas como Joe Bonhan (Bottoms), ferido numa explosão que lhe fez perder os braços, as pernas e o rosto.

Por isso o título é simbólico. Johnny seria um americano qualquer, um Zé da Silva. Na verdade, o romance é muito difícil de adaptar porque é basicamente um monólogo interior (por isso foi adaptado para rádio-teatro em 1941 com James Cagney).

No roteiro cinematográfico, Trumbo acelerou o primeiro clímax dramático, ou seja, a descoberta da tragédia de Johnny, para insistir mais no segundo problema: como Johnny conseguirá comunicar-se com o mundo exterior e provar que seu cérebro continua funcionando, que ainda é um ser humano.

Além disso, o romance termina com um apoio a deserção, à revolta. Trumbo criou para o roteiro um final mais forte e chocante. Todas as opções foram acertadas, assim como funcionam bem as seqüências do passado, principalmente com o pai morto (Jason Robards), que o autor confessa serem autobiográficas.

Ao contrário de "O Homem Elefante", que aborda o mesmo tema, a dignidade humana, aqui preferiram não mostrar o rosto de Joe. Mas nem era preciso.

Ele é visto em flash-backs, em seqüências oníricas, conversando com Jesus Cristo (feito por Donald Sutherland, de maneira surpreendentemente discreta) e compreendido por sua voz que exprime um pensamento que ninguém quer ouvir. Como uma espécie de monstro, de prova viva dos crimes de guerra, ele é confinado numa sala escura e escondido num hospital anônimo.

É quando o filme toca na questão da eutanásia. Se fosse permitida, Joe teria sido morto, já que ninguém poderia ouvi-lo. Por outro lado, até que ponto vale viver naquela situação? Trumbo prefere não tomar posição e transfere a responsabilidade da resposta para o espectador. Nos envolve lentamente no drama do herói até atingir dois momentos da grande sensibilidade, quando Joe sente os raios de sol entrando pela janela e a cena comovente em que a enfermeira finalmente consegue desejar-lhe Feliz Natal.

Segundo afirmava Trumbo, Johnny poderia ter o subtítulo irônico de "Dos Prazeres da Guerra", e se pudesse teria feito uma trilogia, com "Ipoméia" (sobre os prazeres de ser negro na América) e "A Tarde" (sobre os prazeres de ser pobre).

O possível panfletarismo da proposta não está, porém, no filme, que contrabalança com maestria o choque e o horror com a emoção e o humanismo e é daqueles raros trabalhos que nos atingem em todos os níveis, chegando até a provocar lágrimas, mas também nos ajudam a compreender as terríveis contradições da condição humana. Uma obra-prima imperdível.

(Rubens Ewald Filho - http://cinema.uol.com.br/resenha/johnny-vai-a-guerra-1971.jhtm)