segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CASANOVA E A REVOLUÇÃO

Quando tudo mudou por completo...

A Revolução Francesa mudou a forma como o mundo se organizava de forma tão radical que poucos são aqueles que conseguem entender perfeitamente como era a vida no mundo antes da Queda da Bastilha. A mudança para o mundo contemporâneo não foi, porém, uma mudança ocorrida da noite para o dia. Como toda e qualquer alteração significativa, a Revolução foi produzida a partir da ruína progressiva e da ambição desmedida da nobreza instalada no poder nos principais países europeus entre os séculos XV e XVIII.

Querer simplificar o discurso a ponto de estabelecer as causas da revolução como originárias de falhas e erros de análise da nobreza significaria desmerecer estudos clássicos e recentes que tem esmiuçado a teia complexa de acontecimentos ocorridos antes e depois de 14 de julho de 1789.

Que tudo mudou muito, não há como negar. Idéias fundamentais que até aquele momento pareciam apenas teorias destinadas a mofar nos livros e nas estantes das ricas bibliotecas do clero, da nobreza ou da burguesia foram incorporadas ao cotidiano.

Como podemos negar, por exemplo, que Montesquieu está vivo nos sistemas políticos que adotaram sua proposta de três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário?

Como deixar de perceber que os privilégios concedidos a religiosos e nobres (como a isenção de impostos ou o acesso exclusivo a cargos públicos) são combatidos nas leis da maior parte dos países do mundo ocidental?

De que forma podemos ignorar que o conhecimento tem sido cada vez mais divulgado mundo afora a partir da proliferação dos meios de comunicação de massa, do crescimento do setor editorial e das pesquisas realizadas por laboratórios e universidades de diversos países, conforme haviam preconizado os vários autores que colaboraram para a elaboração da primeira “enciclopédia”, organizada sob a tutela de Diderot e D’Alembert?

Será possível viver atualmente sem o resguardo dos contratos sociais defendidos ardorosamente por Rousseau em sua clássica obra iluminista? Ou ainda que a educação pública não seja prioridade na maior parte dos países do dito mundo civilizado, de acordo com idéias do próprio Rousseau apresentadas em seu clássico título “O Emílio”?

Isso certamente nos permite dizer que somos contemporâneos desses pensadores e, particularmente, graças ao esforço dos revolucionários de 1789 que persistiram até 1799 em sua luta e que viram, ao longo desse período a traição do rei da França, Luís XVI, tentando fugir para a Áustria. Pois é essa sensacional história que nos é contada no cultuado filme do diretor italiano Ettore Scola, “Casanova e a Revolução – A Fuga de Varennes”.

João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=255


Ficha Técnica

Casanova e a Revolução – A Fuga de Varennes
(La Nuit de Varennes)

País/Ano de produção: França/Itália, 1982
Duração/Gênero: 130 min., Drama
Direção de Ettore Scola
Roteiro de Catherine Rihoit e Sergio Amidei
Elenco: Marcello Mastroianni, Harvey Keitel, Hanna Schygulla, Jean-Louis Barrault,
Jean-Claude Brialy, Andréa Ferreol, Michel Bitold, Laura Betti, Pierre Malet.