domingo, 3 de abril de 2011

JOHNNY VAI À GUERRA


Ficha Técnica:
  • Título original: Johnny Got His Gun
  • Diretor: Dalton Trumbo
  • Elenco: Timothy Bottoms, Kathy Fields, Jason Robards, Marsha Hunt, Diane Varsi, Donald Sutherland, Eduard Franz
  • Gênero: Drama, Guerra
  • Duração: 106 min
  • Ano: 1971

Único filme dirigido por Dalton Trumbo (1905-1976), roteirista importante ("Exodus", "Spartacus", "Papillon") e a vítima mais famosa do McCarthismo. Colocado na Lista Negra, foi obrigado a trabalhar sob pseudônimo e, como Robert Rich, ganhou um Oscar por "Arenas Sangrentas", em 1956, criando uma situação embaraçosa para a Academia. Foi também o primeiro a quebrar a lista, assinando "Spartacus" e "Exodus" no mesmo ano (1960).

Baseado em romance do próprio Trumbo (que existe em edição brasileira), inspirado num caso verdadeiro de uma vítima da Primeira Guerra, virou roteiro em 1964, para ser dirigido por Luis Buñuel. Foi este quem sugeriu a cena em que a enfermeira tenta matar o doente e a expansão das seqüências de sonho.

Mas basicamente é o mesmo roteiro que Trumbo rodou em 1970, com equipe mínima (os atores receberam o mínimo sindical), e que lhe deu quatro prêmios internacionais: Melhor Filme em Atlanta e Belgrado, Prêmio Especial do Júri e da Crítica em Cannes.

Ao ser lançado em 1971, em plena Guerra do Vietnã, o filme era chocante demais para ser facilmente aceito (só estreou no Brasil dez anos depois). Mas em momento nenhum, Trumbo se permitiu cair no panfletário, no efeito fácil. Não é um filme contra a Guerra do Vietnã ou a Primeira Guerra Mundial, é um libelo contra o absurdo de qualquer guerra, de qualquer situação que permita existir pessoas como Joe Bonhan (Bottoms), ferido numa explosão que lhe fez perder os braços, as pernas e o rosto.

Por isso o título é simbólico. Johnny seria um americano qualquer, um Zé da Silva. Na verdade, o romance é muito difícil de adaptar porque é basicamente um monólogo interior (por isso foi adaptado para rádio-teatro em 1941 com James Cagney).

No roteiro cinematográfico, Trumbo acelerou o primeiro clímax dramático, ou seja, a descoberta da tragédia de Johnny, para insistir mais no segundo problema: como Johnny conseguirá comunicar-se com o mundo exterior e provar que seu cérebro continua funcionando, que ainda é um ser humano.

Além disso, o romance termina com um apoio a deserção, à revolta. Trumbo criou para o roteiro um final mais forte e chocante. Todas as opções foram acertadas, assim como funcionam bem as seqüências do passado, principalmente com o pai morto (Jason Robards), que o autor confessa serem autobiográficas.

Ao contrário de "O Homem Elefante", que aborda o mesmo tema, a dignidade humana, aqui preferiram não mostrar o rosto de Joe. Mas nem era preciso.

Ele é visto em flash-backs, em seqüências oníricas, conversando com Jesus Cristo (feito por Donald Sutherland, de maneira surpreendentemente discreta) e compreendido por sua voz que exprime um pensamento que ninguém quer ouvir. Como uma espécie de monstro, de prova viva dos crimes de guerra, ele é confinado numa sala escura e escondido num hospital anônimo.

É quando o filme toca na questão da eutanásia. Se fosse permitida, Joe teria sido morto, já que ninguém poderia ouvi-lo. Por outro lado, até que ponto vale viver naquela situação? Trumbo prefere não tomar posição e transfere a responsabilidade da resposta para o espectador. Nos envolve lentamente no drama do herói até atingir dois momentos da grande sensibilidade, quando Joe sente os raios de sol entrando pela janela e a cena comovente em que a enfermeira finalmente consegue desejar-lhe Feliz Natal.

Segundo afirmava Trumbo, Johnny poderia ter o subtítulo irônico de "Dos Prazeres da Guerra", e se pudesse teria feito uma trilogia, com "Ipoméia" (sobre os prazeres de ser negro na América) e "A Tarde" (sobre os prazeres de ser pobre).

O possível panfletarismo da proposta não está, porém, no filme, que contrabalança com maestria o choque e o horror com a emoção e o humanismo e é daqueles raros trabalhos que nos atingem em todos os níveis, chegando até a provocar lágrimas, mas também nos ajudam a compreender as terríveis contradições da condição humana. Uma obra-prima imperdível.

(Rubens Ewald Filho - http://cinema.uol.com.br/resenha/johnny-vai-a-guerra-1971.jhtm)




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